quarta-feira, 22 de abril de 2009

O casamento de João Ratão com a Dona Baratinha

Sérgio Porto, o saudoso Stanislaw Ponte Preta, já dizia que uma feijoada só é boa quando tem uma ambulância de plantão. Parodiando a sumidade, eu diria que festa casamento só é boa quando você demora uns três dias para curar a ressaca. Confesso, estava de quarentena me recuperando dos maléficos efeitos do álcool. Naquele dia, se fosse pego em uma dessas blitz da lei seca, seria sumariamente condenado à prisão perpétua. Arrego pro meu fígado.

A noite do dia 18 de Abril foi perfeita. Culminou em um dia onde o sol era a cara dos noivos. O clima estava ameno, o céu estrelado, lua cheia convidando para plantar mandioca. A noiva Andreia estava linda e radiante, afinal depois de 6 anos teria sua primeira noite de amor com o Conan, o Nado. Conduzida com toda pompa e circunstância que o momento pede por nosso digníssimo presidente Colibri ela adentrou o recinto acompanhada por seu progenitor para os braços do Schawarzenegger da Galícia. Naquela hora Pardal tomava a primeira dose.

O Bruto honrava a sua fama de macho empedernido. Moda é coisa de viadinhos. Terno é coisa de almofadinha, e na falta de alguma armadura medieval disponível, o bárbaro usava calça jeans surrada, camisa amarrotada e o mesmo paletó usado pelo Bandido da Luz Vermelha no dia do seu julgamento. Mas como elegância é apenas uma questão de estilo, o noivo até que estava dentro do seu estilo e por isso elegante. Neste momento Pardal tomava a quinta dose e começava a ficar bonito.

Iniciado a bonita cerimônia, com uma trilha sonora fornecida por um Kenny G tupiniquim, os convidados foram surpreendidos por duas cenas inusitadas. Na hora das declarações, o “sacerdote” perguntou o básico para a noiva:
- Andreia, você aceita Leonardo como seu esposo.
No que ela respondeu de pronto:
- Vou pensar!
Um frio correu na espinha dos convidados. Será que ela teria desistido de encarar o bruto? Será que existiria outro? Teria passado por sua cabeça que em sua casa iriam acontecer sucessivos churrascos com a presença do Pimenta? Será que o fálico “pantera negra” da noite anterior tinha deixado alguma marca? Neste interim Pardal passava pela décima dose e se achava irresistível.

Foi nesse momento, que um segundo fato abestalhou os presentes. Do lado oposto ao altar, na varanda do salão principal, Roger, o Chulo, se debulhava em lágrimas. O significado daquelas lágrimas jamais saberemos. Talvez fossem lágrimas de alívio pois agora o Visigodo encontrara um outro alvo na figura de uma esposa. Talvez fossem lágrimas de alegria, por ver que o coração pétreo da Besta se humanizara. Mas, a maioria da audiência apostava que aquelas eram lágrimas de ciúmes, pois aquele deveria ser o seu lugar, e não daquela mocréia. Depois de ter sofrido as mais humilhantes provações, de ser perseguido anos a fio pelo Torquemada da Caiapós, nosso Rolinha agora sofria ser preterido por aquela mondronga. Talvez por isso ela tenha proferido o “Vou pensar”. Enquanto isso todas as mulheres presentes davam mole para o Pardal, o belo, que degustava a décima quinta dose.

Mas, como toda historia de final feliz, ela aceitou o pedido do Obelix de Piratininga, e todos se encaminharam felizes, famélicos e sedentos para as comemorações, afinal todos estavam ali para aquilo mesmo, encher a pança gratuitamente. Pardal na vigésima dose estava gatíssimo, se cuida Gianechinni.

Nisso, os peronautas mais sábios começaram a brotar na portaria do clube. Evitaram a parte mais piegas da cerimônia e foram direto para o que interessava, o chopp. Tico e Roberta, Enrico e Cristiane, Pedro e Mariana, Rodrigo e “A namorada da vez”, Marquinho e Claudia, Nabunda e Calcinha, Pimenta e Roger. Com a barriga roncando e a boca seca, os casais adentravam o convescote a procura de comida e álcool. Não cumprimentaram os noivos, não deram boa noite, não felicitaram os pais dos noivos. A única preocupação era saber onde estava o rango e o goró. Somente depois de se fartarem com pantagruélicas porções de salgadinhos e nababescas doses de uísque, é que eles notaram que uma bateria de escola de samba, passistas, ritmista e cabrochas pedia passagem e aquela corja estava obstruindo a unica porta que dava acesso ao salão. Nessa hora, Pardal tomava a vigésima quinta dose e declarava seu amor por todos que aproximavam.

O ritmo primitivo, bem ao gosto do noivo, ocupou o local. Ziriguidum, telecoteco, balacobaco. Paty, que se encontrava sorumbática e macambuzia em um canto escuro do depósito, mostrou que pode ser ruim da cabeça, mas não é doente do pé. Agarrou o Rola no salão e mostrou a que veio. Por muito pouco o sacerdote não abandonou o hábito e pecou ali mesmo. Pimenta saracoteava pelo salão com uma mulata bamboleante, estrepeituda e sequiosa. Uma manada de espanhóis babava e deixava o salão escorregadio. ?Que pasa? Pardal atingia a trigésima dose e entendia tudo que os espanhóis falavam. "Adelante cabrones".

Em outro canto do salão, Marquinho, Colibri e Pedrão, ensaiavam uma futura parceria num best seller. O livro seria ditado pelo Anão do Méier, escrito pelo Jeca Tatu de Niterói e revisado pelo Janota do Ibirapuera, que se encarregaria de reduzir o volume do livro para 1000 paginas, visto que a versão original foi estimada em 54.321 paginas devido ao bestial volume de inutilidades que um fala e o outro escreve. O capítulo da cueca no fio ocupará 3.600 páginas. Trigésima quinta dose do Pardal. Amuado ele se escorou em um pilar, caiu, foi ao banheiro e voltou mijado.

Com a saída dos ritmistas a música de casamento inunda o salão. New York, New York, Grease, September, Se ela dança eu danço, e outras “preciosidades” bregas tomam conta do ambiente e levam os convidados ao mico tradicional. Pimenta foge pelo salão da perseguição de uma alienígena amiga da irmã do noivo, parecia cena de Alien x Predador. Roger é intimado por uma espanhola louca por uma espanhola, e ao mesmo tempo chamado na chincha por uma peronauta de raiz querendo comunhão. Garoto bom esse. Rodrigo, vestido de monge (deu a largada de camisolão) não desgruda da nova conquista, talvez pelo medo do ambiente hostil. Um espanhol tenta se esfregar na Lenora, que fica fula da vida por ser chamada de “muy guapa”. O noivo requebra até o chão dançando funk (nunca me enganou aquela fúria homofóbica). Enrico não bebia, não comia, não dançava, não contava piadas, não tocava violão, e concordava com tudo. De olhos esbugalhados o vascaíno somente se concentrava para o objetivo final da noite. Assistir com a esposa o novo lançamento do canal 280. Ela, por outro lado, ria até de dor de barriga. Histérica. Nesse instante Pardal tomava sua quadragésima dose, derrubava uma bandeja de chopp do garçom que passava, vomitou na noiva e chamou o Tico para a briga porque não concordou com o penteado deste, que não é mais “mullets”.

Quatro da manhã, final de noite. Nado, o Ostrogodo cai aos prantos, se declara apaixonado pela bela Andréia, confessa que o dinheiro arrecadado pelas gravatinhas vendidas pelo capacho Roger era para comprar um estoque de Viagra, e que a pose de macho nada mais era que dissimulação. Ele na verdade toma mamadeira toda noite no colinho da sua amada. Os convidados começam a se retirar. Hordas de bêbados cambaleavam pelos cantos. Colibri tentava desesperadamente um último ataque soviético em cima de uma baranga retardatária. Mais um toco barangal. Voltou solitário para seu cafofo. Pimenta se lamentava de não ter ido com a zarolha que conquistou na Maratoma. Nabunda contava uma piada para ninguém e se escangalhava de rir sozinho. Tico, puto com a Roberta por ter-lhe obrigado a cortar o penteado Chitãozinho e Xororó, ligava para as perucas Lady a procura de conserto. Enrico olhava para Cris com aquela cara de Scrat (o esquilo da Era do Gelo) adorando a noz. Pedro tapava os olhos da amada Mariana para que essa não se escandalizasse com as barbaridades perpetradas pelos amigos. Rodrigo pagava uma pequena fortuna por uma mapa com indicações de moteis. Marquinho continuava falando, agora para o avô surdo da noiva. Pardal entrava na sua melhor fase. Depois da qüinquagésima dose, apagou em coma alcoólico.

Não obstante o relato acima, a noite foi agradabilíssima. Todos amigos reunidos comemorando o casamento de um cara que tem o coração maior do que o seu tamanho. Nado e Andréia, vocês estão de parabéns porque se completam e são pessoas muito queridas por todos que lá estiveram. E o maior presente quem ganhou foi nós mesmos, seus amigos, que tivemos uma big festa para se reencontrar, se divertir, botar os assuntos em dia, e comemorar o grande cara que é o Nado, que de Brucutu não tem nada.

Às 8:00 da manhã do dia seguinte, o Pardal me liga, sóbrio, chamando pra tomar umazinha no Bar do Dedão. Troglodita!

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